quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O primeiro poema




O menino foi andando na beira do rio
e achou uma voz sem boca.
A voz era azul.
Difícil foi achar a boca que falasse azul.
Tinha um índio terena que diz-que
falava azul.
Mas ele morava longe.
Era na beira de um rio que era longe.
Mas o índio só aparecia de tarde.
O menino achou o índio e a boca era
bem normal.
Só que o índio usava um apito de
chamar perdiz que dava um canto
azul.
Era que a perdiz atendia ao chamado
pela cor e não pelo canto.
A perdiz atendia pelo azul.

Manoel de Barros

sábado, 8 de dezembro de 2012

Pai Nosso em Tupy Guarani:




Oré rub, ybakype tekoar.
I moetépyramo nde rera t´oikó.
T´our nde Reino
T´onhemonhang nde remimotara ybype,
ybakype i nhemonhanga iabé.
Oré remi'u, 'araiabi'õnduara.
Eime'eng kori orébe.
Nde nhyrõ oré angaipaba resé orébe,
oré rerekómemuãsara supé
oré nhyrõ iabé.
Oré mo'arukar umen iepe tentação pupé,
oré pysyrõte iepé mba'ea'iba suí


Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.


Oswald de Andrade



"Dentro de mim, existem dois lobos:
O lobo do ódio e o lobo do amor.
Ambos disputam o poder sobre mim.
E quando me perguntam qual lobo é vencedor,
respondo:
O que eu alimento"


Provérbio Indígena