segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Lua e o Vento



Dizem os mais antigos que uma jovem índia da tribo dos Carajás estava sendo perseguida por um pretendente. Mas ela não gostava dele, não tinha amor por ele e estava ficando bem chateada com a insistência daquele índio.

Quando já não aguentava mais tanta perseguição, a moça foi procurar a ajuda de um poderoso feiticeiro carajá, que lhe disse:
"Para libertar você desse índio, eu poderia transformá-la em uma estrela. Assim, você viveria lá no céu, bem longe do rapazinho chato."

Ela aceitou. O feiticeiro, jogando muita fumaça sobre ela e cantando um canto mágico, transformou a jovem índia em uma linda e brilhante estrela. Seu brilho era tão forte que se refletia na superfície dos rios e lagos da Terra.

O índio apaixonado, quando soube o que havia acontecido, foi rapidamente consultar um outro poderosíssimo feiticeiro, que disse a ele:
"O que eu posso fazer é transformá-lo em vento. Desta forma, você poderá voar até perto da sua amada e ficar com ela, nos céus, para sempre".

Já cheio de saudades da indiazinha, o rapaz disse que sim. O velho bruxo carajá fez, então, a sua magia, e o índio foi transformado em um bonito vento.

O índio-de-vento começou a subir em direção aos céus mas, quando já estava bem alto, virou-se em direção à Terra e percebeu o brilho da estrelinha amada refletido nas águas, lá embaixo. Irritado, voltou-se em direção ao reflexo o mais depressa que podia. E alcançou grande velocidade.

O pai do moço, que assistia a tudo apavorado, pediu ao feiticeiro:
"Faça alguma coisa, depressa, antes que meu filho se arrebente todo! Apague as estrelas! Apague as estrelas, rápido!"

O grande bruxo índio queria atender o pedido daquele pai desesperado, mas sabia perfeitamente que era impossível apagar as estrelas. Então, ele teve uma idéia:
"Vou criar a Lua", disse. "Assim, a luz desse novo astro fará com que o reflexo das estrelas desapareça completamente da superfície das águas".

Assim que o índio-de-vento viu a novidade, e assim que percebeu que as estrelas não estavam mais refletidas nos rios e nos lagos, voltou a subir em direção aos céus e, lá, viveu para sempre ao lado da amada.

Que, podemos deduzir, não gostou nada do final da história!

História do folclore indígena, recontada pelo poeta e museólogo Mário Chagas.

Anhangá






















Anhangá ou Anhangüera significa supostamente "Coisa Ruim".

Mito dos índios brasileiros, a alma errante, que tomava o aspecto de fantasma ou de duende, vagando pelos campos e florestas.

Ele é o protetor da caça no campo e nas florestas; Anhangá protege todos os animais contra os caçadores e quando a caça conseguia fugir os índios diziam que Anhangá ou Anhangüera as havia protegido e ajudado a escapar.



Há vários tipos, como mira-anhanga, tatu-anhanga, suaçu-anhanga, tapira-anhanga e até pirarucu-anhanga - isto é, aparição de gente, de tatu, de veado, de boi e de pirarucu.

Em geral, não era benfazero.

Sua simples lembrança trazia pavor ao silvícola e ao homem simples do campo.

Era a própria corporificação do medo informe, do pavor do desconhecido e do mistério da noite.

É um dos mitos mais antigos do Brasil.

O Anhanga, segundo a tradição, metamorfoseava-se mais em veado.

Espírito que vaga pela mata como um fantasma ou assombração.

Sua presença pode ser detectada por um assobio e depois disso, o animal que estava sendo caçado, simplesmente desaparece.

Ele pode assumir a forma de diferentes animais mas uma delas parece ser a preferida: a do cervo garboso, com olhos de fogo e cruz na testa, que além de enganar os caçadores, desviando o tiro de suas armas rumo às pessoas queridas, provoca febre, loucura e visões em que o vê.

Anhangá é considerado como um protetor da vida na floresta.

Segundo a mitologia popular, qualquer pessoa atacada por um animal selvagem, pode salvar-se gritando: ''Valha-me Anhangá!".